A Revolução Industrial e os combustíveis fósseis

Nós conhecemos um mundo dependente do petróleo. Precisamos dele para nos locomover, vestir, morar, alimentar, medicar. Dele saem combustíveis e matérias primas, sem os quais a sociedade que conhecemos hoje simplesmente não existiria. Mesmo a atual população mundial de 6 bilhões de habitantes não poderia ser mantida sem o petróleo. No entanto, tendemos a pensar em petróleo apenas como combustível e nos esquecemos que dele também saem os plásticos, tecidos, solventes, corantes, fertilizantes, pesticidas, medicamentos, etc. O petróleo permitiu a consolidação da Revolução Industrial, iniciada com base no carvão mineral. Com isso em mente, me dei conta de que podemos estar, literalmente, "queimando" nossa principal  fonte de recursos. E enquanto o fazemos, provocamos a maior mudança ambiental da qual ja se teve notícia, somente superada por aquelas que, teoricamente, deram causa às grandes extinções em massa, a mais recente ocorrida a 60 milhões de anos e que vitimou os dinossauros.

O petróleo é um material nobre e não renovável. Queimar petróleo é como rasgar dinheiro. É como rasgar notas de 100 dólares. Ou como usar notas de 100 dólares para acender charutos.

Mas a nossa sociedade está  viciada em  petróleo. (veja em http://planetasustentavel.abril.uol.com.br/noticia/desenvolvimento/conteudo_412689.shtml). E este vício, assim como o vício do cigarro ou de outras drogas, pode nos levar à destruição. Algo tem que ser feito com urgência.

Que tipo de algo????

Vou discutir algumas propostas que tem sido apresentadas para este impasse:

1 - Economia sustentável

De acordo com esta proposta, os recursos naturais devem ser manejados de maneira não predatória, respeitando as características de cada lugar e repondo aquilo que foi tirado da natureza. Podemos cita alguns exemplos deste tipo de abordagem, como extração de madeira de áreas plantadas para este fim, substituição da atividade pecuária em áreas de floresta pela exploração renovável de recursos da mesma, reciclagem do lixo urbano e industrial, etc. No Brasil, o expoente máximo deste tipo de abordagem é o programa do álcool combustível, que baseou-se em uma cultura preexistente e tem sido muito elogiada pela capacidadede sequestro e carbono (que será assunto de um futuro tópico).

2 - Retirada sustentável

Esta proposta é muito mais radical. Proposta pelo fisiologista britânico James Lovelock, ela leva em conta que o planeta não é apenas um recurso a ser explorado, mas um sistema complexo e interligado, cuja principal característica é a autoregulaçao, num comporamento muito semelhante ao de um organismo vivo. Conhecido inicialmente como Hipótese Gaia, hoje e a pós a aceitação da comunidade científica, recebe o nome de Teoria Gaia. Em resumo, a teoria diz que o conjunto de todos os seres vivos e os elementos ambientais (solo, atmosfera, oceanos, radiação  solar, etc) atuam entre si de maneira a manter um equilíbrio ambiental (de temperatura, umidade, radiação solar, ecológico, etc). De acordo com Lovelock, a humanidade já extraiu recursos da natureza além da conta, o que está interferindo neste equilíbrio. Sua proposta é a Retirada Sustentável. Em resumo, ele propõe uma redução brutal do nível de extração de recursos naturais, mantendo-se extritamente o necessário para a manuenção da vida. E os seus argumentos são, do ponto de vista científico, irrefutáveis. Só há duas maneiras de se alcançar este objetivo:

a. Drástica redução na atividade econômica - Esta receita pode matar o paciente como a cura. Pela recente experiência como a crise financeira mundial, vemos que este remédio pode ser amargo demais. Milhões podem morrer pela falta de emprego e recursos. E como a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, temos uma idéia de quem serão esses milhões...

b. Drástica revisão no modelo de consumo - Esta receita mexe nas bases do atual modelo de produção capitalista industrial (e do comunista industral também). Implica em uma revisão completa no modo como as matérias primas são extraidas, tratadas, utilizadas, descartadas e recicladas. Implica em descartar o atual modelo de desenvolvimento baseado no crescimento econômico. Ao contrário do acreditava Adam Smith, não é possível gerar riqueza. Ela deve ser extraida de algum lugar. E  este lugar tem sido o meio ambiente.

Talvez um meio termo entre esses modelos seja possível. Talvez não. Mas dependendo das decisões que tomarmos AGORA, colheremos consequencias difirentes no futuro. O fato é que não temos muito tempo. Os recursos naturais estão se esgotando. O petróleo, se continuar a ser queimado, acabará em poucos anos, provocando uma crise sem precedentes de fornecimento de combustíveis e (principalmente) matérias primas. O meio ambiente continua sendo envenenado, inviabilizando as fontes de água e o solo. O efeito estufa, descalibrado em função do excesso de gás carbônico na atmosfera, consequencia da queima de combustíveis fósseis, ameaça provocar uma mudança climática que pode inviabilizar a vida na Terra.

Acredito que a primeira coisa que deve ser feita é mudar a maneira irresponsável e perdulária pela qual temos usado a energia. Em pleno século XXI, não são aceitáveis veículos como uma eficiência energética de 20%, quando temos o conhecimento, os meios e os recursos para produzir veículos com 80% ou mesmo 90% de eficiência. Não faz sentido usarmos energia elétrica, que é energia primária, altamente organizada e de alta qualidade, para aquecer a agua do banho, mas não usá-la para propulsão. É incompreensível que ainda se fabriquem lâmpadas incandescentes quando já existem alternativas muito mais eficientes, como as fluorescentes e as LED.

A segunda coisa a ser feita é mudar a maneira perdulária e irresponsável pela qual temos usado os materias. Por que fabricar automóveis com tempo de vida de 5 anos? Deveriam ser 50! Por que os computadores são fabricados com tempo de vida de 1 ano? deveriam ser 10! Por que o celulares são feitos para durar 6 meses e não 6 anos?

Tudo isso é apenas o começo. Temos os meios e os motivos para fazer melhor que as gerações passadas. Os países em desenvolvimento devem resistir à tentação de trilhar o mesmo caminho que o assim chamado Primeiro Mundo.

Esta coletânea de motivos me levou ao VE. No atual contexto, não faz sentido outro típo de veículo. Estamos atrasados em sua implantação e algo deve ser feito AGORA para tirar este atraso.

Pense nisso.

Leitura recomendada:

Lovelock, James: A Vingança de Gaia - 2006 - Editora Intrínseca

Comentários

  1. Queria saber sobre os combustiveis da segunda revolução industrial

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  2. Os combustíveis da segunda Revolução Industrial são os que usamos hoje: carvão e petróleo, que ainda correspondem a mais de 90% da matriz energética mundial. Segundo alguns autores, houve uma terceira Revolução Industrial a partir do pós guerra e alguns acreditam em estamos prestes a prsenciar uma quarta Revolução Industrial, esta sim com promessas de mudança na matriz energética, a qual contemplaria com maior amplitude os combustíveis renováveis e formas mais seguras de energia nuclear. Vamos esperar pra ver.

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